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Agressividade e Psicose

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Lacan¹ fala de como a agressividade é uma tendência fundamental na psicose paranoica, desde a explosão brutal motivada ou imotivada, até a guerra fria das interpretações com imputações de nocividade do Outro, como motivação de veneno, retirada de algo primordial, influencia mágica que traria algum malefício em todos os níveis da existência do sujeito.

Essa paranoia esta relacionada de acordo com Lacan¹ a certos momentos críticos da constituição do sujeito, que vai desde uma relação com o seu semelhante de uma forma indiferenciada e de antecipação à conquista da unidade funcional do seu corpo, que implicaria o reconhecimento de uma percepção precoce na criança à sua imagem do espelho, ou seja, o sujeito se identifica com a imagem de seu próprio corpo a partir de uma descoordenação profunda de motricidade. Essa captação se dá entre os 06 meses aos 2 anos e meio, no qual aparece um transitivismo  e imponência . É uma relação erótica na qual o indivíduo se fixa na sua imagem que o aliena em si mesmo, e que constituirá o eu do sujeito. E a partir daí, surgirá o desejo do sujeito em ser objeto de desejo do outro de uma forma ainda imaginária e a partir daí uma concorrência agressiva por esse lugar. Dessa forma, toda a mudança instintiva do sujeito será marcada por um limite que divide o sujeito que o fazem negar muitas vezes uma sujeição a uma identidade. Da mesma forma como na paranoia, o sujeito nega a si mesmo e culpa o outro no qual Freud apud Lacan¹ cita os delírios de ciúme, erotomania e o de interpretação. Existe uma absorção especular da criança que se baseia em uma reação emocional a partir das imagens. A partir daí se dá também a frustração primordial que origina a agressividade, ou seja, uma tensão nessa estrutura narcísica. Para sair disso, é necessário a formação do ideal de eu que o psicótico não consegue formalizar para neutralizar o conflito existente.

A transferência surge muitas vezes como suporte ao narcisismo abalado ou até mesmo inexistente do sujeito psicótico de acordo com Miller².

O Outro do psicótico é onisciente e, portanto na transferência, segundo Miller² o analista deveria funcionar como um não sábio para se opor à devastação do supereu do psicótico está relacionado a tese de Lacan no Seminário o sinthoma, no qual seria uma introdução do Outro do Outro a fim de instaurar um pequeno furo.

Miller² fala que devido a falta de enodamento entre simbólico, real e imaginário, o analista deve se posicionar como analista-sinthoma, sem que se transforme em  uma posição de saber, já que o sintoma do psicótico não se completa. Trata-se sempre de obter um enodamento ali onde o sujeito corre o risco ou ajudar a refazer um nó ali onde anteriormente se desnodou. Essa posição de analista-sinthoma serve tanto para o sujeito neurótico quanto para o sujeito psicótico de acordo com Lacan apud Miller², há uma continuidade entre as posições do analista nessas estruturas.

A psicose segundo Miller² não existe a lógica da exceção que limitaria o gozo e ajudaria nessa construção de saber. A partir dessa transferência, o gozo dessa sujeito pode ser em parte limitado, dando um lugar possível de enlaçamento.

Colette Soller apud Miller² propõe uma orientação de gozo, que seria intervir frente a um gozo invasor e sustentar uma realização do sujeito.

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¹Lacan, J.(1998{1955}. Escritos: A agressividade em psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora.

²Miller, J. A.(2012 A psicose ordinária A Convenção de Antibes: Neotransferência. Belo Horizonte.Escriptum

³Pommier, G.(1992).A Ordem Sexual Perversão, Desejo e Gozo: O desejo sexual masculino, a passagem para a heterossexualidade. Rio de Janeiro: Editora Zahar.

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