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Impasses e manejo do analista no atendimento infantil

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O sintoma tem a ver com a estrutura inconsciente e segundo Lacan* apud Miller (1986), a criança responde pelo que há de sintomático na estrutura familiar. 

É muito importante ouvir a dinâmica familiar para ver como a criança se engloba na história, já que ela tem em si o desejo do Outro e isso vira uma questão para ela. Essa questão tem a ver com a sua própria subjetividade, sendo produtora do próprio sintoma, dessa forma é necessário ouvir a criança, porque segundo Debieux (2000), ela também formula teorias que ficam inscritas no inconsciente. O sintoma é representante das três verdades, do casal, do fantasma da mãe e aquela do seu desejo. De acordo com Dolto** apud Debieux(2000) ,a criança suporta inconscientemente as tensões da dinâmica emocional dos pais, sendo porta-voz deles, embora a demanda da criança possa ser bem diferente do discurso dos pais e precisamos entender qual é posição subjetiva dessa criança e o que ela está tentando nos falar a partir de sua fala, do seu brincar e do discurso dos pais. 

Novamente segundo Debieux(2000), É importante trabalhar a transferência dos pais para que eles autorizem e para eles entrarem em contato com as próprias questões que podem estar relacionadas com o sintoma do filho. Às vezes os pais vêm procurar atendimentos sem estarem de fato com um mal estar e acabam não entrando no tratamento dos filhos, e muito menos autorizando as possíveis mudanças. Muitas vezes, eles só querem uma autorização para continuar no gozo de sua posição, sem olharem para o sintoma da criança. 

O organizador pulsional infantil, segundo Eric Laurent depende da função do pai, sendo que o que importa é o que esse pai é para sua mãe, o que a sua mãe quer dele e aí se estrutura o desejo da criança, ela se questiona o porquê veio ao mundo, o que querem dela. O desejo da mãe é uma incógnita e aí vai se formar a posição subjetiva da criança.  

Segundo Jacques-Alain Muller (1998), além do pai, o desejo da mãe é necessário para permitir ao sujeito o acesso as suas pulsões e a seus desejos.  

Segundo Lacan*** apud Laurent, a intervenção do pai traz a promessa fálica. A mãe deseja algo desse homem, algo que é organizador para essa criança. Significação fálica é a criança querer algo que ela não tem e em relações saudáveis, está posto na figura paterna. Segundo Lacan apud Muller (1998)****, o desejo de ser o falo está relacionado ao desejo neurótico. O desejo da mulher de ter um filho está relacionado com o desejo de ser o falo. Quando a mãe consegue fazer uma significação do falo e não uma identificação com ele, começa haver uma divergência no desejo feminino entre homem e criança. O nascimento da criança angustia o homem, pois começa a se questionar sobre o que ele é para a mulher. Para ele conseguir ser pai, ele tem que aceitar que não é tudo para a mulher e que não se pode ser tudo. A falsa paternidade faz o sujeito se identificar com o pai de tal forma para encarnar o absoluto e abstrato da ordem e ser desejado, ou ficar totalmente identificado com a fantasia materna, já que esse pai não consegue fazer a mediação com o particular do desejo da mãe. A feliz paternidade faz a mediação entre as exigências abstratas da ordem e do particular do desejo da mãe, ou seja, humanizar o desejo. 

Por isso, segundo Debieux(2000), no atendimento com os pais, é importante que eles escutem sua construção imaginária dos filhos, para que eles possam ouvir onde está o próprio desejo que influencia na condição sintomática do filho. Queixando-se do filho, aparecem as próprias questões. O que a criança é nessa relação com a mãe é o que importa. Tudo isso conseguimos através da rede discursiva. Se a criança está totalmente identificada com os desejos da mãe, sem mediação da figura paterna, deixa a criança aberta a todas as capturas fantasmáticas, tornando-se o objeto da mãe. Torna-se o objeto a na fantasia, ou seja, o objeto de satisfação da mãe, que causa o desejo da mãe, objeto de gozo, que representa uma falta da mãe que vai ser satisfeita com a criança. É importante que a mãe continue a desejar enquanto mulher, que a criança não seja um todo para ela, para não haver um tamponamento da criança enquanto sujeito. Para que a metáfora infantil do falo seja bem sucedida é preciso que falhe, ou seja, que a criança não fique identificada ao falo, que ele seja castrado simbolicamente. É necessário que a criança divida a mãe, que seja amado pela mãe, mas que uma parte dela continue desejante. De qualquer forma, a criança se difere do objeto a da fantasia, por ser animada e objeto a, por excelência, inanimado.  

Segundo Lacan apud Miller (1998)* há dois grandes tipos de sintomas, aos que dizem respeito ao par familiar e aos que se atém a relação dual da criança e da mãe. Sendo mais complexo caso resulte do par familiar, no entanto mais sensível a intervenção do analista. No entanto, quando o sintoma está relacionado à relação dual mãe e filho, é mais simples, porém muito difícil de simbolizá-lo, já que a figura do pai está excluída. 

De acordo com Eric Laurent analisar seria poder articular a relação entre a significação fálica e a criança como objeto de sua mãe para fazer com que o sujeito possa vir a ser, descolando dessas fantasias. 

 

 

 

Bibliografia 

Laurent, Éric. Loucuras, sintomas e fantasias na vida cotidiana. Scriptum: Escola Brasileira de Psicanálise. 

              Miller, J.A (1986) Duas notas sobre a criança. Extraído de Ornicar?, Revue du Champ freudien, nº 37, avril-juin 

 

                Miller, J.A. (1998) A criança entre a mulher e a mãe (Ana Lydia Santiago trad.). Opção lacaniana. 

Rosa, Miriam Debiux(2000) Histórias que não se contam. O Não-dito e a psicanálise com crianças e adolescentes. Taubaté: Cabral Editora Universitária. 

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